sábado, 19 de janeiro de 2013

O OMELETE

“Depois de um sono bom... A gente levanta toma aquele banho, escova os dentinhos...” Era ainda garoto quando ouvia esse jingo do Cafe Seleto: gostoso de ouvir e de cantar. Estavam a mesa do cafe da manha quando lembraram juntos do famoso jingle; cantaram e riram juntos.
Ela agora tão distante... Como curar uma ferida de amor? Como seguir em frente com esse vazio? Naquela manhã em especial, ela fez um “omelete”. Delícia! Nunca comi um igual! Só para você, meu amor! O brilho nos olhos, um sorriso sincero, e as mãos buscando as dele. O cheiro: Café feito na hora... Maravilhoso.  Ainda podia sentir.
Pegou dois ovos e repousou sobre o balcão. Ao lado o sal, cebola, alho, pimentão; Ah, claro! Um pouco de bacon e coentro, tudo bem picadinho. Quantas vezes ele cortava tudo em fatias grossas só para provocá-la... (Ri sozinho). Ela estava bem ali, à beira do balcão preparando tudo, ou à beira do fogão, cozinhando, e eu chegava de fininho por trás abraçando; Sai, amor! Deixa eu terminar isso! Um beijinho no pescoço e ela se derretia, toda arrepiada. E o tempero. Falta tempero nesse prato.

Estavam juntos há treze anos... E tão distantes agora.
Um pouco de leite ajuda... Acho que tenho presunto na geladeira, vai dar um sabor especial.
O ruim da distancia é o desespero de querer estar junto que invade o peito da gente. Ela sempre gostou de beber do mesmo copo, comer do mesmo prato, usar a mesma toalha... Sente falta do que antes o irritava: a marca de baton em sua xícara, a toalha molhada depois do banho, o pão mordido no prato...
Um pouco de margarina. Ela raramente usa óleo. Gosta de comida saudável; eu um relacho só. Ela gosta de tudo limpinho e já vai organizando a louça suja enquanto cozinha; eu aquela bagunça ao final de tudo. Papéis, lápis&canetas, livros e acessórios do computador sempre nos devidos lugares; eu existo no caos.
Morou algum tempo sozinho, mas foi com ela que aprendeu a cozinhar um pouco. A mãe mineira contemplou as três filhas com esse dom de fazer coisas incríveis. “As mães fazem isso: ensinam as filhas a pegarem os homens pelo estômago”, pensou e riu... de molecagem mesmo. O dia lá fora também prega sua peça: um sol brilhante convida todos a sairem, mas o frio é impiedoso, menos dois graus.
Tem apenas uma coisa que ela invejava... o jeito de virar o omelete para assar do outro lado, nisso ele dava um show: a espatula de madeira por baixo, girando para descolar um pouco e servindo de apoio ao mesmo tempo, aí é só jogar para cima girando e pegar embaixo de novo com a frigideira; pronto. O mesmo se repete com o prato.

Agora sim, está pronto. Falta queijo! Como se a ouvisse dizer. E ele obedece, afinal de contas ela entende do assunto.
Toda esse exercício de estar junto virtual lhe faz bem. A presença dela preenche o espaço. Sentado junto ao balcão, ele pega a chícara de café quente e experimenta o omelete, quase perfeito. Exagerou um pouquinho no tempero mexicano talvez, tempero para tacos na verdade; que mal faz, pensou... Na proxima vez tomo mais cuidado.


Vestiu uma camisa bacana para o encontro.
Ligou o Skype e esperou.