quinta-feira, 14 de abril de 2011

Exercício de Narrativa – Foco: diálogo sem marcações - Fábula

O Macaco, o Lobo e a Onça
“Quem fala o que não deve, tem que levar porrada”. A maldita frase não saia da cabeça do Macaco Micala, bicho danado que deitava a falar pelos cotovelos quando se sentia importante. O dono da “maldita” era o Lobo Rosnildo, e o motivo de tal esculacho, que entrou pelos tímpanos do pobre mico, como ameaça efetiva, foi que o tal lobo soube de uma tal falação do tal macaco. Falação, falácia, infeliz, para o pobre diabo. Ao meio-dia estava marcado o encontro para uma conversa, que se ouvia das bocas dos demais bichos, nada amigável. Agora só restava rezar para um milagre acontecer, o dito não podia ser desdito, pelo contrário, só aumentado, quem conta um conto...
- Ah, meu deus!!! O qui vô fazê agora meu Santo dos Micos Dourados? Me disseram que o Lobo Rosnildo está azedo que só, disse qui eu num passo do meio dia... qui vai acabá co’a mia raça... tudo isso, só por causa de uma brincadeirinha... Ai, meu Jesus Quistinho... Ai, ai, ai. Óia quem vem ali: a Onça Todapintada. Só ela podi mi salvá; peciso pensá im alguma coisa... Pensa! Pensa! Pensa... É isso! (tendo uma luz, e virando para todos os lados...) Vamo, vamo, temo que fazê alguma coisa! Vamo todos! Rápido! Ora, que desespero é esse seu Mico Micala? Dona onça! Que bom que chegô, se nóis não se mexê, vamos todos morrê! Vamo dona onça, quero dizer: majestade Todapintada. Alto lá, seu macaco, vamos para onde e por qual motivo? Ainda num sabe? Pois o Rosnildo disse que todos os bichos tem que saí da floresta purque os homens vão botá fogo nela. É mesmo? E quem é esse tal de Rosnador? Num é Rosnador, não, é Rosnildo: o lobo. Que dizer que é só um lobinho assim... soltar um boato pela floresta, e pronto? Não é boato, é verdade, eu mesmo vi alguns homens olhando a floresta ontem; num acredita? E se acreditasse? Acha que eu ia sair arrancando meus cabelos feito um macaco que-não-se-penteia como você? De forma alguma, meu caro colega. Não pense num desaforo desses. Deixe de bestagem! Pois então é valente? Vai resistir? Digo que não arredo o pé daqui! Pois agora tô mesmo sem rumo! Então me diga porquê Sr. Abestado? Deixa pra lá. Deixar para lá o quê, Mico? Eu mesmo num gosto de fofoca. Pois se não contar agora, não vai precisar mais abrir sua boca para o resto de sua vida. Num é nada de mais, num vale a pena a sinhora perdê toda essa sua sabedoria... Sabe que sempri li admirei, num sabe? Sempre com bom caminhar, boa comida, cum essas pintas cheias de charme... Vamos seu moleque, você está me enrolando! É que o Lobo Rosnador, quero dizer o Lobo Rosnildo, disse que ia ficar por último, já que (cutucando) é o animal qui num tem medo de nada qui na floresta... e qui todos os outro, que num chegao aus péis dele, deviam saí primeiro; é claro que na hora eu já defendi dona Todapintada; disse que cê é o animal com mais bravura; com mais valentia; que num tem medo di nada, nem di ninguém; e que acaba com qualqué metido a besta que entra na sua frenti; foi isso mesmo o que eu disse, falei demais? Nem uma vírgula a mais, meu caro, é isso mesmo. Não tem medo nem da morte? Asseguro, simplesmente, que não tenho medo de nada. Pois já sabia e lasquei essa tamém! Você não errou, meu jovem, pode ter certeza! A senhora morte já tomou chá comigo certa vez, se quer saber. (consigo mesmo, rindo por dentro) Ah, claro que sim... nooosa! e como.... já tinha mi isquecido cum quem tou falano... me disculpi. (com a bola cheia) E o que foi que o tal do Rosnante falou depois disso? Que eu não passava de um mico filho de um burro, pois... Dexa pra lá, dona Onça! Num foi nada! Só bobage de quem tá disisperado! Se é bobagem decido eu! Que diabos mais ele falou? Já estou ficando sem paciência, não proteja esse lobo, não! Tá bom, ele disse...que... ele... (apimentando) era o tal do pedaço, tá dito! Falei! Pediu pra falá, falei! E tem mais, (no: ou tudo ou nada...) que faria picadinho de qualqué onçinha di meia tigela que si metesse em seu caminho.  (perdendo o controle...) Isso é verdade, amigo Micala? Posso cair mortinho agorinha, se num fô verdadi. Verdadi das boa! Tão verdadi quanto eu tá vendo a senhora qui na mia frente. (fisgada..) Pois tudo que eu queria agora era encontrar esse bicho pra acabar com ele; mas ele não há de escapar; nem a queimada livra esse fulano das minhas garras! Ah, que ódio desse Lobo Rosnento! (o melhor amigo...) Calma dona Onça... num carece preocupação, não; assim perde a razão; vai se fácil a sinhora encontrá o sujeito... ele falô que vem me procurar agora meiu-dia, na pedra da Gruta do Tronco, pertim do rio de baixo, sabe? Ele vem buscá sabê se já dei o recado pra ocê... porque num quer ver sua cara por perto. Ah, é? É? Não diga? Já disse! Pois ele não vai mesmo ver minha cara, vou acabar com esse sujeito antes que ele se dê conta do que aconteceu. Pois então vamo cumigo que vai sê sua chance. (Sentando na pedra da Gruta do Tronco...) Fique ali, atrais daquela árve, i ispere. Eu vou ficá beim aqui, e quano ele se aproximá... Não precisa nem continuar, é aí que a festa vai começar. (confabulando...) quando o Lobo Rosnildo apontá ali naquela encruzilhada, e vê que tou aqui, vai vim correno e babano... aí, subo naquela árve e fico assistino o ispetáclu de camaroti. (com seus botões...) Êta, nóis! Ocê num nasceu pra ser forti, nem teim valentia... mas tem muita esperteza, hein!; dá um coro fácil em político ou pastor de igreja. Quiri aqui meu pai me visse agora... He,He, He! Lá vem ele...
Nesse momento, uma sensação de vitória já lhe abria o canto dos lábios, quase sorria, todo fanfarrão. O medo de antes, era agora quase poder. Parecia que o próprio macaco era quem ia dar cabo do lobo. Sentado, bonachão, esperou ainda um pouco mais. Estava seguro. Certo dos fatos que viriam. Baixinho, ele se vangloriava de tão inteligente que era, e de como tinha a feito a onça de besta para lhe servir. Com a pulga atrás da orelha, a onça, que não era besta nem nada, e para quem a caminhada permitiu rever um pouco aquela história, espreitava, e, estranhando, decidiu chegar mais perto da pedra onde estava Micala. Tão perto chegou a ponto de ouvi-lo se gabar de sua trama. Ficou transtornada. Virou uma fera. Sua raiva foi tamanha que dum salto alcançou logo a cabeça do safado. Do diabo do bicho sentado na pedra não sobrou nem o rabo. O lobo parou atônito, até ele se assustou com aquele rompante inesperado... Respeitosamente foi se afastando... Nem era preciso explicação, já sabia tudo... Como diziam pela vizinhança: O peixe morre pela boca.

Exercício de Narrativa - Foco: o "tempo" na narrativa

DO TRAMPOLIM
Finalmente chegou o momento, pensou. Ali estava afinal, depois de tanto preparo, centenas de horas de prática e exercícios infindáveis, festas e feriados trabalhando, além dos dois anos longe de sua família. Puxa! Quantas saudades!!! Conseguiu até mesmo resistir ao desejo de ter alguém para passear de mãos dadas, fazer amor, e beijar, beijar, beijar... kiss all the time, diziam os amigos do Los Angeles Aqua Team. Mas, não. Manteve o foco, redobrara o treinamento nos momentos de crise do corpo, do coração, da cabeça... Nesse momento, enquanto pensava essas coisas, outros pensamentos entravam na fila, empurrando, se cotovelando, e começavam a acumular pelos lados; depois, uns por cima dos outros. Sabendo o que devia fazer, o rapaz começou a se posicionar no trampolim. Houve um momento que quase chegou a desistir; seja por desentendimento com seu coach, um americano rigoroso; ou saudades da family, como podia-se ler no portarretrato de sua cômoda; algumas notas baixas na university, a irmã afora o som desta palavra; além daqueles instantes de vacilação... Valeria a pena tudo aquilo? Seria um sonho em vão? Quais seriam suas reais chances? E se ele deixasse o esporte e focasse nos estudos? E se essa prova abrisse portas? Era uma dicisão que precisava enfrentar, afinal aquilo era sua existência. Entre flashes de pensamentos, entrecortados, intrusos, incômodos, parcos lances do evento entravam por seus olhos. Sentia uma alegria gostosa por estar ali. Toda concentração era pouca. Be focused, lembrando do comando do técnico. Tentou a respiração; sim, contando ajudaria... one, two, trhee, four, Five, six, seven... Momento incrível havia vivido nas eliminatórias! It was really great!, You’re the one, man! ouviu dos companheiros de equipe, entusiasmados. Com certeza, tinha tantas chances quanto qualquer de seus adversários. Iria aproveitar seu momento. Apenas uma fisgada no joelho da semana anterior, lembrou. Coisa pouca... Nada... Isso... Nada, tentou se convencer. Decididamente estava bem preparado; I’ll work hard, prometeu ao pai antes de embarcar para os States, e o fez cada minuto de sua trajetória até ali... Respirou uma vez mais... eight, nine, tem, eleven, twelve, thirteen, fourteen, fifteen... Noitadas nem pensar... sentia falta mesmo era de uma folga para relaxar, mas era cedo demais para isso. Ainda havia muito caminho a trilhar. Foco, foco, foco... daria seu best jump ever, como desafiaram os colegas. Respira. Um salto de ouro. Respira. O joelho era de ferro, com certeza! Poderia até ser uma Prata... Mas ouro era seu objetivo. Seria técnico ao extremo, mas leve e gracioso... sixteen, seventeen, eighteen, nineteen, twenty... Ouvia o murmúrio da galera na arquibancada; vozes, anúncios, e sons diversos compunham uma paisagem sonora instigante, aquele era o momento sem dúvida, estava excited com a perspectiva. Faltava muito pouco para o salto do sucesso. Respira... be focused... go, go! Essa já é sua champion! Já estava na ponta da prancha e pronto. No último segundo a certeza: Ready! Go! Naquele instante ganhou os céus num salto para a liberdade. Em questão de segundos, enquanto pairava leve e solto no ar, pode ver o céu, a água, a arquibancada recheada de guarda-sóis e chapéus coloridos. O joelho apenas obedecia, firme, como deveria ser. Nesse trajeto, outro par de olhos buscaram os seus, olhos jovens e femininos, doces olhos de amor. Naquele exato instante, soube da única certeza do seu destino.