sábado, 7 de julho de 2012

FAUSTO


Você se lembra de ter assistido a um filme russo? Em tempos em que a maioria das pessoas só assiste a filmes americanos, que tomam quase todas as salas dos cinemas brasileiros, com pouquíssimo espaço sendo disputado pelo cinema brasileiro, bem como exemplares esparsos de produções espanholas, francesas, alemãs, etc, eis que surge um ótimo filme produzido na Russia. Com um tema universal, baseado em uma lenda alemã que foi difundida pela obra de Goethe, Fausto, que foi o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, é um espetáculo que fala da ambição humana, da busca do homem por poder e riqueza.

O filme narra a história lendária na Alemanha de um homem sábio, o doutor Johannes Georg Faust, que, tendo estudado a fundo a medicina, a filosofia, a religião, entre outras ciências, se vê inconformado com sua situação de miséria e fome busca a ajuda em uma loja de penhores. O dono da loja - um velho estranho que causa horror, “Os idiotas me chamam de Diabo” diz - se interessa pela alma do médico e o seduz. Mefistófeles, na obra de Goethe, é a encarnação do demônio na Terra. Tendo estudado demais, o pobre coitado não sabe lidar com as mazelas daquela vida em uma sociedade miserável, assim, o velho vai influenciando seu olhar e manipulando sua conduta para que os dois alcancem seus objetivos. O contato com a vida fácil, mulheres e luxúria vão alimentando o desejo do rapaz. O diabo força uma briga de bar e faz com que o médico seja o responsável pela morte de um jovem soldado... irmão da bela moça por quem se apaixona em seguida. Tímido e sem estratégias para o amor, ele demanda que o diabo o ajude a conquistar a pobre moça. Só que para isso...

Um filme que vai na contramão da produção americana, a qual estamos familiarizados, ou seja, não há explosões, destruição, ou pancadaria coreografada; o jovem bonitão e a mocinha linda e sexy; não há apelo sexual em cenas de amor; etc. Um filme despido também de efeitos especiais. Algo impressionante, o diretor consegue criar cenas lindas e poéticas sem nenhum efeito mágico, que não o da própria câmera. Em tempos de velocidade, é maravilhoso perceber que a câmera pode se demorar no encontro de dois olhares apaixonados e que a luz pode ter um papel muito importante na criação desse clima amoroso. O mergulho no abismo lago e a conjugação carnal se misturam numa poesia que revela a tragédia humana dos dois amantes.

O cenário, baseado na obra na qual é baseado o filme, é a Alemanha do século XVIII e nos mostra uma sociedade decadente, onde cada indivíduo, por exemplo, luta pela necessidade mais básica do ser humano: a comida. A cena na qual o pai de Fausto lhe nega um pouco da comida que acabou de ganhar exemplifica bem isso. Não há escrúpulos, Alexandr não tem dó do seu público; e não há moralismos, apenas uma história a ser contada.

Título original: Faust
Direção: Alexandr Sokuv
Russia: 2012