O texto científico é visto, muitas vezes, como um bicho de sete cabeças, já que as burocracias institucionais ganham peso na hora de escrever. É sim preciso atenção a certas convenções, e com as normas ABNT. Mas escrever um artigo deve ser um gesto de desejo de dividir uma experiência. Seja ela fruto de uma pesquisa ou de uma prática específica, como a educacional, a artística, científica, etc., valorizando experimentações que deram certo, ponderando sobre problemas encontrados, ou, mesmo, caminhos de investigação que começam a ser trilhados (imprimindo o valor do estudo em nosso contexto, metodologia, ações já encaminhadas, e resultados parciais), etc. Portanto, é importante que o texto aponte uma questão que seja oriunda da prática, fruto de inquietações na relação com o objeto, ou da contribuição dos participantes da pesquisa. Desta forma ele servirá como meio de registro e reflexão sobre o próprio fazer.
Em educação, pensando na escola pública, um objeto de pesquisa pode ser a proposição de uma prática diferenciada em sala de aula, e o texto traria a idéia, elementos do planejamento, a observação e análise dessa experimentação; pode, também, ser um relato de experiência da vivência e aplicação de um determinado material didático (Caderno do Professor/ Caderno do Aluno, por exemplo) tanto partindo do ponto de vista do professor quanto do aluno; uma proposta de formação desenvolvida em HTPC; entre outras possibilidades. No caso do artigo científico, não é preciso que seu texto seja baseado em pesquisa aprofundada. Isso é preocupação própria para uma dissertação ou tese. Mas que traga elementos que apresentem de forma clara sua experiência, como: introdução ao tema abordado e ao problema investigado, como surgiu a idéia, onde ocorreu, a prática, quando, com quem, qual metodologia, e aspectos próprios de cada vivência na relação com a teoria de apoio, e as considerações finais. Essa forma de registro e organização das idéias irão refletir de volta para o fazer do professor, que passará olhar mais atentamente para os processos vividos em sala de aula. É por isso que todo educador deve vivenciar um processo de escrita de um texto científico.
Escrever um texto científico é uma forma de aprendizado. É na busca de parceria com especialistas no assunto abordado que há expansão do conhecimento e modificação da prática. Entretanto, não é a citação de pensamento de autores que deve guiar a elaboração do pensamento, muito menos deixar que essas citações sejam a maior parte do texto. Não se deve achar que as citações são mais importantes do que a sua experiência. Ela sim é que deve, de vez em quando, abrir espaço para um ou outro autor colaborar com o seu pensamento, em geral, reforçando aquilo que você descobriu fazendo ou estudando. Muitas vezes descobriu junto com o estudar, no diálogo com os autores apontados, e isso é mais interessante. Entender que não construímos conhecimento sozinhos.
Aqueles que nunca experimentaram escrever e apresentar um artigo científico devem passar, em algum momento, por essa experiência. Além dos exercícios da produção intelectual (através da qual também aprendemos a fazer – ou seja aprendemos a escrever um texto científico escrevendo) e de participação no evento (espaço para discussão e conhecer pessoas), há também o prazer de ver um trabalho seu publicado nos anais de um congresso, que é muito bom, e valoriza seu currículo. Geralmente fazemos isso ao desenvolver uma pesquisa no mestrado, mas hoje em dia é comum vermos alunos de graduação apresentando seus trabalhos.
Caso não saiba por onde caminhar, qualquer pessoa pode, por exemplo, escrever sobre uma planejar e propor uma experiência educativa com seus alunos; fazer uma leitura de um processo de formação, ou projeto educativo, do qual vem fazendo parte (como: Recuperação Escolar; Lugares de Aprender; Redefor, Escola da Família, etc.). Ou seja, o texto pode ser um "relato de experiência" com apontamentos sobre a trajetória, orientações didáticas, aspectos positivos, negativos, e possibilidades de continuidade. Meu 1º artigo trazia minha percepção sobre a importância, para nós alunos do curso de mestrado do Mackenzie, do Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle na disciplina de Novas Tecnologias em Educação, e suas repercussões na minha prática. Com esse exemplo, quero mostrar que há vários caminhos para a escrita de um texto. Depois de decidido qual será trilhado, é preciso selecionar quais serão os autores com os quais você vai dialogar em seu texto.
Ao visitar sítios de congressos na internet, encontramos os temas que nortearão as mesas de debate. Um desses temas pode, também, lançar luz sobre sua produção, uma vez que você veja contemplado naquele tema um caminho que vem explorando em sua prática.Os sítios dos congressos também trazem orientações para a escrita do texto, com orientações sobre tamanho do texto (número de páginas), fonte, parágrafo, uso de imagens, tabelas, gráficos, etc. Muitos congressos pedem que você envie primeiro um resumo, se aceito, você envia o texto depois, ou a publicação pode ser apenas do resumo. Particularmente, não vejo muito sentido em publicar apenas um resumo, já que com, em média no máximo, 250 palavras, não se pode dizer muita coisa. Para quem precisa publicar, em virtude de exigência de algum programa de pesquisa, tudo bem, mas o trabalho fica prejudicado e os possíveis leitores ficam privados do texto sobre o qual tiveram interesse.
Quem disse que o conhecimento da escrita é privilégio de quem fez Letras? Em primeiro lugar, vale ressaltar que a competência não vem junto com o diploma. Ela é fruto da prática, da leitura, e do exercício de revisão. Revisão esta não só da parte material da escrita, mas também do seu conteúdo intelectual, ou seja, escrever é um exercício que aprimora a organização do pensamento. E isso é uma demanda de qualquer área do conhecimento. O processo de escrita, assim, acontece como uma forma de planejar, observar, avaliar, retomar, e melhorar a prática. Portanto, é preciso arregaçar as mangas e escrever.
Em muitos casos não há o hábito de escrever e isso gera um bloqueio. É preciso se libertar das travas impostas pela educação autoritária que tivemos, que enchia nossos textos de anotações em vermelho, apontando todo tipo de erro ortográfico ou gramatical, sem discutir as idéias apresentadas. Se você não está acostumado a escrever, não tenha medo, pense que o importante é a experiência que você quer partilhar. Mais do que ortografia (que o Word corrige) e gramática (que os amigos podem revisar até que você pegue o jeito), escrever irá te dar o norte de como organizar seus pensamentos. Por isso é condição sine qua non que você leia artigos científicos antes de começar a escrever o seu. Fazendo isso, você entenderá melhor como desenvolver certas partes do texto, como: “resumo” (para artigo), “Introdução”, “metodologia”; “desenvolvimento”; “considerações finais”; “referências bibliográficas”; bem como, formas de organizar o texto. Coloco abaixo os links de dois dos meus artigos, com características bem diferentes, com publicação digital. No primeiro (meu primeiro) é possível observar que não se trata de uma pesquisa, e sim, como disse antes, da observação de um percurso de formação, e no segundo (um dos mais recentes) um recorte de parte dos frutos da pesquisa de mestrado.
Escrever é uma forma de se posicionar no mundo, de revelar-se ao desconhecido. É sempre um ato de generosidade. E no caso do texto científico, é a generosidade de dividir anseios, inquietações, experimentações, possibilidades de respostas, exposição de processos, modos de ver e perceber, formas inventivas de busca de solução de problemas. Por tudo isso, a escrita de um texto científico deve ser entendida como forma de desenvolvimento intelectual e profissional, um processo contínuo de formação, tão essencial ao fazer do educador.
Moodle como Laboratório de Prática em Disciplina do Mestrado: Uma Experiência na Construção do Saber por Alunos-Professores"
“Improvisação – das origens à linguagem teatral: princípios de práticas contemporâneas”
http://www3.mackenzie.br/editora/index.php/tint/issue/current (clicar em PDF)
Oi Jorge!
ResponderExcluirSim , não construimos nada sozinhos!
E adorei a questão da correção dos erros ortográficos e da gramática. Acho que precisamos olhar para as ideias sim , claro , mas querido , eu amo nossa língua, ela é linda demais e acho que vejo a ortografia e a gramática como amigas das ideias, e olahr para isto tb é na verdade proporcionar que uma ideia seja transmitida da forma mais precisa possível . Olhar para as ideias é formar pessoas realmente... A generosidade é sem dúvida o motivo da docência , isso me emociona.
Clarissa
Jorge ,
ResponderExcluirEu me inscrevi no blogspot como Lara para postar minhas poesias , mas ainda não consegui postá-las rsrssrsr
Daí o codinome acima heheehe
Clarissa
Concordo, Clarissa. A gramática e a ortografia é que dão forma a nossas idéias, não devem ser postas em segundo plano, mas também não podem ser uma barreira. Entender o aspecto estrutural da língua como intrínseco a ela, e usar isso a seu favor, é um passo a ser dado por aquele que escreve. O primeiro passo é escrever.
ResponderExcluirAbs.
Jorge
Ah, estou iniciando também por aqui. A cada dia vou descobrindo algo novo. É preciso tempo para fuçar.
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