sábado, 7 de abril de 2012

O VARAL

- Já vou, mulher! Não tá vendo que tô ocupado! Vive reclamando de tudo, sô! Cada coisa no seu tempo... resmunguei já saindo para consertar o maldito varal. De fato, já se ia, por baixo, por baixo, umas duas semanas que ela vinha nessa ladainha do varal. Insistia que ele tinha que trocar, que tava ruim, que não aguentava mais, e essas coisas que toda mulher se põe a falar na cabeça, até vencer o peão pelo cansaço.
Cada hora é uma coisa diferente. Se você conserta o varal, hoje, amanhã já tem o portão que fica emperrando. Se tira o vazamento do banheiro, a torneira da pia não fecha direito. Pense numa filha-duma-égua de uma goteira no seu quarto e imagine a doidera da falação na sua cabeça até a que a penga da goteira num si vá?! Pinga penga gota, fala penga na cabeça. É só Jesus na vida da gente. Se é, oi sô! Certeza!
Tava tudo certo, já tinha varal novo na mão. No sábado passei lá no depósito do Seu Mané, e  já peguei o material. Depois passei no Chicão e pus logo duas branquinha pra dentro, afinal... também sô filho de deus, não é? Pra quê, rapaz! Aquilo foi a gota d’água pra patroa; mordida que só, despejou na minha cabeça até umas horas... “Cê num tem jeito, não! Seu bicho safado! Sê ia vê se ficasse jogando até tarde. Aí sim o coro ia comê!” Cão late, mas não morde, sabe disso? Sábio dito popular. A mulher é um amor, quase um anjo. Quando votei estava ao lado do piano de caldas, parecia concentrada, alisava e olhava seu reflexo na pele lisa do instrumento. Fica nervosinha à toa, sabe? Mas tem um coração grande.
Voltando ao assunto do varal...No final das conta, nem era tanto trabalho assim. O basicão! Um velho pelo novo. É como aquela história: o dito pelo não dito, sabe? Quase igual. Um lado solto, o outro da mesma maneira, o fim obedece o meio, não é isso que o filosofo diz, então? Depois o bom já se ajeita e tá pronto!
Ai vem a recompensa. Mulher é um bicho incrível mesmo. Ou é oito ou oitenta, vai da água para o vinho num piscar de olhos. Logo de saída, um beijão no cangote da nega. Arrepiada, se esquivou com um “me deixa, cachorro”; toda risonha a bicha. Não trouxe nem uma cervejinha, mô? TLACK! Abriu de pronto a latinha. Se aprumou do meu lado, toda dengosa quando peguei os quatro limão na geladeira, Vai fazê uma caipora pra nosotros amigo; não dei mole, tasquei um beijo naquela boca deliciosa, Só se fô agora, pretinha espanhola!; Hummm, que delícia...! Parece que adivinhô, meu gostoso... Êta mulhé danada, sô! É assim que seu homi gosta de vê: você facinho, facinho, bandida. Vem meu moleque, vem cá, vem? Só pra pirraçar, ainda me faço de difícil...
Nega, larga do meu pé
faz o que você quisé
pra você não falta homem
pra mim não falta mulher
E ela gosta... Ô se gosta, sô!

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