quinta-feira, 14 de abril de 2011

Exercício de Narrativa - Foco: o "tempo" na narrativa

DO TRAMPOLIM
Finalmente chegou o momento, pensou. Ali estava afinal, depois de tanto preparo, centenas de horas de prática e exercícios infindáveis, festas e feriados trabalhando, além dos dois anos longe de sua família. Puxa! Quantas saudades!!! Conseguiu até mesmo resistir ao desejo de ter alguém para passear de mãos dadas, fazer amor, e beijar, beijar, beijar... kiss all the time, diziam os amigos do Los Angeles Aqua Team. Mas, não. Manteve o foco, redobrara o treinamento nos momentos de crise do corpo, do coração, da cabeça... Nesse momento, enquanto pensava essas coisas, outros pensamentos entravam na fila, empurrando, se cotovelando, e começavam a acumular pelos lados; depois, uns por cima dos outros. Sabendo o que devia fazer, o rapaz começou a se posicionar no trampolim. Houve um momento que quase chegou a desistir; seja por desentendimento com seu coach, um americano rigoroso; ou saudades da family, como podia-se ler no portarretrato de sua cômoda; algumas notas baixas na university, a irmã afora o som desta palavra; além daqueles instantes de vacilação... Valeria a pena tudo aquilo? Seria um sonho em vão? Quais seriam suas reais chances? E se ele deixasse o esporte e focasse nos estudos? E se essa prova abrisse portas? Era uma dicisão que precisava enfrentar, afinal aquilo era sua existência. Entre flashes de pensamentos, entrecortados, intrusos, incômodos, parcos lances do evento entravam por seus olhos. Sentia uma alegria gostosa por estar ali. Toda concentração era pouca. Be focused, lembrando do comando do técnico. Tentou a respiração; sim, contando ajudaria... one, two, trhee, four, Five, six, seven... Momento incrível havia vivido nas eliminatórias! It was really great!, You’re the one, man! ouviu dos companheiros de equipe, entusiasmados. Com certeza, tinha tantas chances quanto qualquer de seus adversários. Iria aproveitar seu momento. Apenas uma fisgada no joelho da semana anterior, lembrou. Coisa pouca... Nada... Isso... Nada, tentou se convencer. Decididamente estava bem preparado; I’ll work hard, prometeu ao pai antes de embarcar para os States, e o fez cada minuto de sua trajetória até ali... Respirou uma vez mais... eight, nine, tem, eleven, twelve, thirteen, fourteen, fifteen... Noitadas nem pensar... sentia falta mesmo era de uma folga para relaxar, mas era cedo demais para isso. Ainda havia muito caminho a trilhar. Foco, foco, foco... daria seu best jump ever, como desafiaram os colegas. Respira. Um salto de ouro. Respira. O joelho era de ferro, com certeza! Poderia até ser uma Prata... Mas ouro era seu objetivo. Seria técnico ao extremo, mas leve e gracioso... sixteen, seventeen, eighteen, nineteen, twenty... Ouvia o murmúrio da galera na arquibancada; vozes, anúncios, e sons diversos compunham uma paisagem sonora instigante, aquele era o momento sem dúvida, estava excited com a perspectiva. Faltava muito pouco para o salto do sucesso. Respira... be focused... go, go! Essa já é sua champion! Já estava na ponta da prancha e pronto. No último segundo a certeza: Ready! Go! Naquele instante ganhou os céus num salto para a liberdade. Em questão de segundos, enquanto pairava leve e solto no ar, pode ver o céu, a água, a arquibancada recheada de guarda-sóis e chapéus coloridos. O joelho apenas obedecia, firme, como deveria ser. Nesse trajeto, outro par de olhos buscaram os seus, olhos jovens e femininos, doces olhos de amor. Naquele exato instante, soube da única certeza do seu destino.

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