Você se lembra de ter assistido a um filme russo? Em tempos em
que a maioria das pessoas só assiste a filmes americanos, que tomam quase todas
as salas dos cinemas brasileiros, com pouquíssimo espaço sendo disputado pelo cinema brasileiro, bem como exemplares esparsos de produções espanholas, francesas, alemãs, etc, eis que surge um ótimo filme produzido na Russia. Com
um tema universal, baseado em uma lenda alemã que foi difundida pela obra de
Goethe, Fausto, que foi o vencedor do
Leão de Ouro no Festival de Veneza, é um espetáculo que fala da ambição humana,
da busca do homem por poder e riqueza.
O filme narra a história lendária na Alemanha de um homem
sábio, o doutor Johannes Georg Faust, que, tendo estudado a fundo a medicina, a
filosofia, a religião, entre outras ciências, se vê inconformado com sua
situação de miséria e fome busca a ajuda em uma loja de penhores. O dono da
loja - um velho estranho que causa horror, “Os idiotas me chamam de Diabo” diz
- se interessa pela alma do médico e o seduz. Mefistófeles, na obra de Goethe,
é a encarnação do demônio na Terra. Tendo estudado demais, o pobre coitado não
sabe lidar com as mazelas daquela vida em uma sociedade miserável, assim, o
velho vai influenciando seu olhar e manipulando sua conduta para que os dois alcancem
seus objetivos. O contato com a vida fácil, mulheres e luxúria vão alimentando
o desejo do rapaz. O diabo força uma briga de bar e faz com que o médico seja o
responsável pela morte de um jovem soldado... irmão da bela moça por quem se
apaixona em seguida. Tímido e sem estratégias para o amor, ele demanda que o
diabo o ajude a conquistar a pobre moça. Só que para isso...
Um filme que vai na contramão da produção americana, a qual
estamos familiarizados, ou seja, não há explosões, destruição, ou pancadaria
coreografada; o jovem bonitão e a mocinha linda e sexy; não há apelo sexual em
cenas de amor; etc. Um filme despido também de efeitos especiais. Algo
impressionante, o diretor consegue criar cenas lindas e poéticas sem nenhum efeito
mágico, que não o da própria câmera. Em tempos de velocidade, é maravilhoso
perceber que a câmera pode se demorar no encontro de dois olhares apaixonados e
que a luz pode ter um papel muito importante na criação desse clima amoroso. O
mergulho no abismo lago e a conjugação carnal se misturam numa poesia que
revela a tragédia humana dos dois amantes.
O cenário, baseado na obra na qual é baseado o filme, é a Alemanha
do século XVIII e nos mostra uma sociedade decadente, onde cada indivíduo, por
exemplo, luta pela necessidade mais básica do ser humano: a comida. A cena na
qual o pai de Fausto lhe nega um pouco da comida que acabou de ganhar
exemplifica bem isso. Não há escrúpulos, Alexandr não tem dó do seu público; e
não há moralismos, apenas uma história a ser contada.
Título original: Faust
Direção: Alexandr Sokuv
Russia: 2012
Boa, Jorge. Fiquei curioso. abração.
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